01/06/2016

ANS propõe novo modelo de assistência a idosos na rede privada de saúde

No dia 24/05 a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) apresentou, no Rio de Janeiro, um novo modelo de atenção à saúde de idosos na rede privada com a justificativa de evitar as atuais falhas que geram má assistência e aumento crescente de custos.

 

O projeto chama-se  “Projeto idoso bem cuidado” e, de acordo com a agência, pretende tornar mais eficiente a assistência médica a pacientes com 60 anos ou mais, que representam 12,5% dos cerca de 50 milhões de usuários de assistência de saúde privada.

 

 De acordo com o divulgado pela imprensa, o novo modelo será testado inicialmente em um projeto piloto que envolverá 15 organizações, como operadoras e hospitais (ainda a serem escolhidos), a partir do segundo semestre deste ano (2016).

 

A meta do projeto "Idoso bem cuidado" é que os planos de saúde criem estruturas, como centros geriátricos, capazes de reconhecer riscos que podem agravar a saúde do idoso e atuem de uma forma preventiva.

 

No modelo atual esses idosos estão "soltos" no sistema de saúde. Passam por vários especialistas, fazem inúmeros exames, usam muitas medicações (que podem interagir entre si e causar danos), mas não há ninguém cuidando deles como um todo.

 

Conheça as principais propostas do novo modelo para o projeto piloto:

 

- O hospital e a emergência deixam de ser a porta de entrada do sistema de saúde e sejam substituídos por uma equipe funcional específica para atender a esse público.

 

- Contratação de um profissional com a responsabilidade de conduzir e acompanhar a passagem do paciente pela rede de saúde, promovendo o diálogo entre prestadores e operadoras por meio de aplicativo ou registro em papel que permita a portabilidade de dados essenciais em saúde (avaliação clínica com os seus riscos e dos cuidados que precisa), que poderá ser acessado de qualquer lugar, inclusive pelo próprio idoso.

 

- Criar uma ordem de abordagem e cuidado do  paciente idoso de forma a cuidar da saúde preventivamente e da doença.

 

- No novo modelo o procedimento de atendimento seguirá a seguinte ordem: acolhimento, núcleo integrado de cuidado, ambulatório geriátrico e cuidados complexos de curta duração e longa duração. A meta será o reconhecimento precoce do risco, permitir monitorar a saúde do idoso com a possibilidade de postergar a doença ou suas complicações, a fim de que o idoso possa usufruir seu tempo a mais de vida.

 

Repercussão

 

Para Ligia Bahia, professora do Instituto de Saúde Coletiva da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), a nova proposta da ANS é bem-vinda, mas precisa ir além dos projetos pilotos. "O setor suplementar vive de projeto piloto, um substitui o outro. E a assistência ofertada é muito ruim. É comum a queixa  - o médico nem olhou na minha cara -. Para o idoso isso é mortal."

 

O presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), João Bastos Freire Neto, afirmou em entrevista que ainda falta qualidade da informação que passa pelo sistema de saúde. É preciso investir em tecnologia para que o idoso transite pelo serviço sabendo da condição de saúde dele. Outro grande desafio é a falta de profissionais capacitados em saúde do idoso. Menos da metade das escolas de medicina tem no programa pedagógico a geriatria e a gerontologia.

 

Dados divulgados pela Agência Brasil informam que o país tem aproximadamente 1,4 mil geriatras para atender em torno de 24 milhões de idosos (um para cada 17 mil). O número adequado, segundo a ANS, é de um geriatra para cada mil idosos.

 

Segundo opinião de Freire Neto também divulgada pela Agência Brasil, todo profissional da saúde precisa aprender sobre saúde do idoso na graduação., a maior parte da demanda dos idosos pode ser resolvida por um médico que não o especialista.

 

Segundo ele, se for adiante, ele acredita que o modelo vai evitar a sobreposição de exames, medicamentos e desarticulação das intervenções em saúde nessa faixa etária.

 

Embora não seja uma obrigação dos planos privados, ele ressaltou que algumas operadoras já implantaram modelo similar ao proposto pela ANS e têm obtido melhores resultados assistenciais e econômico-financeiros. Para ele, a  partir do momento em que esses modelos forem replicados e ampliados, as operadoras vão enxergar que essa é uma boa possibilidade de atuação, pois hoje o resultado é ruim, o modelo de assistência é caótico, o que gera desperdício de recurso.