19/10/2011

José Taniguti fala da Associação Kodmo-no-Sono

José Taniguti, sócio-fundador e associado da AAPS, assumiu a presidência da Associação de Excepcionais Kodomo-No-Sono em 2010, da qual conta um pouco da história e de seu trabalho à frente da mesma em entrevista exclusiva para o nosso site.

Seu trabalho voluntário junto à instituição teve início em 1995, quando aposentou-se da Sabesp e recebeu o convite para fazer parte da diretoria da  Kodomo-No-Sono  pelo presidente da Associação na época.

Aceitou o desafio, pois sentia que estava na hora de retribuir para a sociedade tudo de bom que havia recebido de Deus em sua vida até aquele momento.

Passou 10 anos colaborando em diversas atividades da entidade, como comissão de eventos e bazar (2 anos), reciclagem de móveis (4 anos) e na fazenda (4 anos), até chegar a presidência da entidade.

Como toda entidade beneficente sem fins lucrativos, tanto a organização, como as atividades e meios de subsistência da Kodomo-No-Sono estão alicerçadas principalmente nas doações privadas e atividades desenvolvidas para arrecadação de fundos por sua diretoria durante o transcorrer do ano.

No dia 30 de outubro será a vez da Temaki Fest, que acontecerá na sede da entidade. Clique aqui para saber mais sobre a festa, antes de ler a entrevista!


AAPS: O que significa KODONO-NO-SONO?

Taniguti: Kodomo significa criança e, sono, significa jardim. KODONO-NO-SONO quer dizer jardim das crianças.

 
AAPS: Como nasceu a  Kodomo-No-Sono?

Taniguti:  A entidade foi criada há 53 anos para abrigar filhos de japoneses, exclusivamente portadores de necessidades especiais.
Na época do pós-guerra, com a imigração japonesa para o Brasil, os casais com crianças excepcionais não tinham a quem recorrer e, então, começaram a procurar orientação no templo budista, com o monge  Ryoshin Hasegawa.
Inicialmente ele abriu um espaço no templo para que os pais pudessem deixar as crianças enquanto estavam no trabalho. Através do boca-a-boca a notícia se espalhou e o número de crianças sob seus cuidados foi aumentando.
Cerca de dez anos depois, em 1958, antes de retornar ao Japão, após aceitar o convite para assumir a diretoria de uma instituição educacional em Tókio, ele conclamou as lideranças da comunidade japonesa brasileira para uma reunião com o objetivo de fundar oficialmente uma entidade para ficar encarregada do das crianças que estavam sob o seu cuidado.
O monge Ryoshin Hasegawa foi o sócio-fundador em conjunto às entidades voltadas para os descendentes de japoneses (como a Aliança Cultural Brasil-Japão, Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa, entre outras), inclusive do interior paulista.
O nome de fundação da instituição foi Associação Paulista de Amparo às Crianças Retardadas.  Alguns anos mais tarde foi alterado para Associação Pró Excepcionais Kodomo no Sono.  E continua com a mesma denominação até os dias atuais. Ela é reconhecida como a primeira entidade assistencial da comunidade nipo-brasileira do Brasil a abrigar portadores de necessidades especiais. E conta com reconhecimento oficial como entidade de utilidade pública nos âmbitos Federal, Estadual e Municipal, dispondo de toda a documentação exigida pela legislação vigente.
Quem quiser mais detalhes pode acessar o site da Associação no endereço www.kodomonosono.org.br.

 
AAPS: De quantas crianças a Kodomo-No-Sono cuida atualmente?

Taniguti: Cronologicamente falando a entidade não pode receber mais crianças, por que teria de atender as normas estabelecidas pelo Estatuto da Criança, que determina que a instituição tem de ter um espaço em separado, destinado somente para crianças daquela faixa etária e não  teríamos condições para isso.
Por outro lado, a Kodomo-No-Sono foi fundada com o compromisso de acompanhar as crianças com necessidades especiais durante toda a sua vida,
O que ocorre, é que nossos internos, os mais novos estão chegando aos 50 anos. Agora do ponto de vista psicológico, eles são crianças com necessidades especiais.
A Associação foi fundada com o compromisso de cuidar das crianças durante toda a sua vida e, com os nossos internos caminhando para a faixa etária da terceira idade, administrativamente entramos numa fase de nos preocupar com as adaptações para o espaço físico que em breve serão necessárias, como instalação de piso antiderrapante, corrimão nos corredores e banheiros, substituição de escadas por rampas (para atender futuros possíveis cadeirantes)  etc..

 
AAPS: Quantos internos a  KODOMO-NO-SONO tem hoje?

Taniguti: A Kodomo-No-Sono tem 90 internos. Destes, 30% não são nikkey (descendente de japonês).

 
AAPS: Onde fica a sede da entidade e como ela funciona? Taniguti: A KODONO-NO-SONO tem uma sede própria que foi construída  num terreno doado por Kichisaburo Iguchi,  localizado na área rural do bairro de Itaquera, zona Leste de São Paulo, assim denominada até hoje pela Prefeitura, apesar do local estar cercado por áreas totalmente urbanizadas com a expansão da cidade.
Hoje a entidade conta com dois pavilhões separados fisicamente, um masculino e outro feminino. A separação ocorreu no início da década de 90, quando as crianças começaram a atingir a adolescência.
A filosofia educacional praticada pela entidade tem como lema: “desenvolvendo a independência e a alegria de trabalhar com suor na fronte”. Os internos, até os dezoito anos de idade, receberam educação com ênfase no desenvolvimento das emoções e dos sentimentos. Ao atingirem a idade adulta cronológica, o enfoque passou a ser o desenvolvimento do senso de independência e autoconfiança através do treinamento profissionalizante, com o objetivo de reintegração à sociedade, respeitando as limitações de cada um.
Atualmente são realizadas as seguintes  atividades terapêuticas na instituição: trabalhos manuais (orimono - tecelagem japonesa -, bijuteria e artesanato), atividade educacional (leitura, escrita, recorte, colagem, pintura), jardinagem, musicoterapia, taikô, caminhada, educação física e limpeza dos arredores.
Dentre estas também temos as atividades produtivas: cerâmica, avicultura, marcenaria, rouparia (principal setor de atividades domésticas) e cozinha (para limpar e preparar as mesas, uma tarefa importante para colocar o aluno mais próximo do dia-a-dia doméstico).
Não há distinção de sexo. Todos podem participar de qualquer atividade, embora algumas sejam mais praticadas pelas mulheres e outras, pelos homens, por escolha pessoal.
 
AAPS: Essas atividades são para a sustentação financeira da entidade?

Taniguti:  Na verdade as atividades desenvolvidas por eles não têm finalidade exclusivamente comercial, mas principalmente terapêutica e educacional.
O termo utilizado para definir o caráter de social da entidade pelo reverendo Ryohin Hasegawa, fundador da Kodomo-No-Sono,  é o Kan on Hoshi do pensamento Mahayama, e que significa que o ser humano vive graças a harmonia entre todos os homens. E é isso que buscamos proporcionar para cada um dos nossos internos.
 
AAPS: O senhor poderia explicar melhor como as atividades terapêuticas funcionam?

Taniguti:A educação dos internos é baseada nas atividades terapêuticas, com o objetivo de atingir o desenvolvimento emocional e espiritual e para motivar nossos alunos ao bem-estar social.  A orientação adequada num ambiente favorável tem importante papel para o desenvolvimento de sua capacidade e também proporciona certa estabilidade emocional para os que necessitam de um atendimento maior.
O foco de todas as atividades está voltado para a orientação vivencial. A principal necessidade para pessoas com grandes comprometimentos é a independência nos hábitos do cotidiano como alimentares, vestir-se e manter a higiene, o que, em muitos casos, é muito difícil para a família.

Vou dar um exemplo mais específico: a produção da cerâmica Shigaraki Yaki. É uma arte milenar da Província de Shiga, no Japão, praticada desde os tempos épicos dos samurais e a sua tradicional técnica de confecção tem sido transmitida de geração para geração.

Os internos cumprem diversas funções na sua produção por setor, que vão desde a preparação da argila, modelagem, até a colocação no forno.

Embora as peças produzidas sejam comercializadas, é algo artesanal e tem o objetivo terapêutico e lúdico como o mais importante.  A participação no processo é feita no ritmo individual de cada um. Quando alguém manifesta o desejo de não participar, sua vontade é respeitada. O mesmo ocorre com as demais atividades.

Além disso, embora exista a comercialização do que é produzido, o valor arrecadado não seria suficiente para manter o funcionamento da entidade que, além dos voluntários, também conta com profissionais especializados em seu quadro clínico.

 
AAPS: E como a entidade é constituída?

Taniguti: A Kodomo-no-Sono tem um corpo de voluntários. Eu mesmo, sou presidente e exerço trabalho voluntário. Mas também temos funcionários registrados pelo regime CLT, que atuam na parte administrativa e também para a área de saúde.
Temos uma enfermeira-chefe responsável pelos cuidados diários de saúde dos internos e pelo trabalho executado pelas auxiliares de enfermagem.
Cada interno tem um prontuário médico que é atualizado diariamente pelas enfermeiras. No final de cada dia, a enfermeira-chefe confere e assina as anotações do dia, se responsabilizando pelos procedimentos. Mensalmente, o médico voluntário da Entidade verifica e assina todas as fichas e procedimentos já assinados pela enfermeira-chefe. Todos esses procedimentos estão sujeitos à inspeção periódica da Secretaria da Saúde.
Também temos plantão noturno diário com enfermeiros (ou enfermeiras) dando atendimento às demandas da noite.
Também temos os profissionais especializados em terapia ocupacional que desenvolvem o trabalho com as atividades lúdicas.

 
AAPS: Qual o custo mensal da entidade?

Taniguti: Só com o pagamento dos funcionários gastamos R$ 100 mil por mês.

 
AAPS: Como a Kodomo-No-Sono faz para se manter financeiramente?

Taniguti: Arrecadamos uma quantia mensal que vem de familiares dos internos (30%) e de nossos sócios-contribuintes. Outra fonte de recursos vem do aluguel do arrendamento de uma fazenda da entidade em Cerqueira Cesar.
Para o restante das despesas desenvolvemos atividades durante o ano inteiro, como bazares, chá da tarde, almoços (boi no rolete), rifas, concurso nacional de karaokê beneficente (já completamos 10 edições) e a Temaki Fest, que está na sua oitava edição e acontece no dia 30 de outubro, no último domingo do mês.
E assim, com muito trabalho, vamos compondo o equilíbrio financeiro de nossa entidade e cumprindo o compromisso assumido por ela quando da sua fundação.
Gostaríamos de destacar que a Kodomo-no-Sono tem um Boletim Informativo interno, no qual faz uma prestação de contas total, publicando relatórios de suas atividades, do financeiro, do administrativo e bazar beneficente, além da listagem dos sócios contribuintes e o respectivo valor com o qual cada um contribuiu. Neste boletim é possível acompanhar toda a arrecadação e destinação dos recursos de nossa entidade.

 
AAPS: O que é a Temaki Fest?

Taniguti: É uma festa típica onde o temaki, comida japonesa é servida à vontade, em cones, como os de sorvete.
Também temos música japonesa e Show de Taikô (tambor japonês). O Taikô, inclusive também é praticado pelos nossos internos que demonstram interesse. Temos instrutores para ensiná-los e treiná-los na arte de tocar este tipo de tambor.
Aproveito para convidar a todos para a Temaki Fest 2011. É uma ótima oportunidade de conhecer nosso trabalho e passar um domingo diferente com a família.

 
AAPS: Além das festas organizadas há outras formas de ajudar a Entidade?
Além de nossos eventos beneficentes, a entidade Kodomo-No-Sono é mantida graças à colaboração através de vários tipos de doações.

As doações em dinheiro podem ser feitas com depósitos nos seguintes bancos:

Bradesco S/A - Agência: 0131-7 (Liberdade) – Conta corrente: 129.101-7
Caixa Econômica Federal - Agência:  2903 (Liberdade) – Conta corrente: 03181-2
Santander  – Agência:: 4551 – Conta corrente: 130002311
Ou ainda, tornando-se sócio contribuinte, com qualquer quantia mensal.
Mais informações pelo telefone (11) 2521-6437.

Outras formas de doar:


Alimentos não perecíveis: Arroz, feijão, café, sal, açúcar, chá, extrato de tomate,f arinha de trigo, leite integral, leite em pó, margarina e macarrão.

Material de limpeza: Desinfetante, detergente, cera incolor, sabão em pó, saco para lixo.

Higiene Pessoal: Aparelho de barbear, creme dental, papel higiênico, papel toalha, sabonete.

Enfermaria: Luvas de procedimento, esparadrapo, gase, algodão, band-aid, faixa.

Roupas (qualquer tipo): infantil, adultos, inverno, verão, novas e usadas.

Material didático: Cadernos, tintas para pintura em papel e tecido, lápis, caneta etc.


AAPS: O senhor gostaria de acrescentar alguma informação?

Taniguti: Gostaria de ressaltar que toda doação, independente da quantidade, será sempre bem-vinda.
Agradecemos sinceramente a todo aquele que se dispuser a ajudar nossa entidade. Também agradeço a diretoria da AAPS pelo espaço para divulgar o trabalho da Kodomo-No-Sono.
Um abraço a todos!